Projeto da Uergs busca preservar o registros das memórias durante a pandemia
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Individualizar as vivências para enxergar os sujeitos por trás das estatísticas e das histórias que envolvem as pessoas impactadas pela pandemia do novo Coronavírus é um ato de humanizar estas relações, não as vendo apenas como dados. Esse é o esforço que o projeto desenvolvido na Uergs em Erechim, Memórias e Vivências em Tempos de Covid-19: olhares transdisciplinares, busca realizar. Coordenado pela professora Thaís Wenczenovicz, em parceria com o jornalista Salus Loch, o projeto se propõe a coletar registros de pessoas que queiram compartilhar as suas histórias durante a quarentena.
A ação convida os interessados a enviarem relatos curtos, compartilhando seus sentimentos, angústias, temores e novas formas de se relacionar em meio à pandemia. Os relatos devem ser encaminhados para os e-mails dos responsáveis pela ação, observando a formatação indicada na página de divulgação do Projeto. Thaís e Salus irão analisar os depoimentos para, posteriormente, serem publicados em um livro ou e-book.
Diariamente são divulgados dados que apresentam os números de novos casos e de mortes causadas pela Covid-19 - o país já ultrapassa os 800 mil casos confirmados, além de 44 mil mortes. Diante dos números, a professora Wenczenovicz enfatiza a necessidade de se compreender o valor dos sujeito e dos significados que podem ser tirados de suas vivências, que também se tornam saberes. “Um dos pontos de entrelaçamento para desencadear a pesquisa foi que as pessoas valem por suas historicidades e vivências, e não por classificação de consumo, números e demais”, completa.
Thaís também fala da importância da memória, que “compõem as trajetórias dos diversos grupos sociais”. Em tempos onde as informações são extremamente numerosas, o passado influencia na forma como as relações se estabelecem com o presente e o futuro. “Cada cultura, cada indivíduo, cada sociedade cria relações diversificadas de apropriação e uso desse passado, de acordo com associações de diferentes fatores. Associações que nem sempre são conscientes, voluntárias ou fruto de um grande debate ou situação e, em tempos de pandemia, faz-se necessário ouvir os coletivos”, conclui a coordenadora.
Confira dois dos depoimentos recebidos pelo projeto:
Bom, de um dia para outro nosso cotidiano foi alterado bruscamente. Levei algumas semanas para entender o que seria necessário realizar na e pela escola após o primeiro Decreto do Governador. A imprensa já alertava, mas enquanto não chega a nossa porta parece que não é bem assim [...] a primeira vez que participei de uma reunião pelo computador não falei nada. Apenas escutei. Acho que nem tinha o que falar. Alguns colegas falavam sem parar e outros nada como eu. Comecei a pensar onde daria minhas aulas: na sala? Na cozinha? Depois veio a insegurança de falar e não ser compreendida e por fim saber acessar as Plataformas. Ah, um detalhe: meu computador não é tão moderno. Fui obrigada a comprar outro, mesmo sem ter programado e dinheiro naquele momento. (Depoente E 01. Educador de Escola Privada, 2020)
São muitas as exigências e quase nada de apoio e formação. Veja, eu realizei minha Graduação em tempos que poucos professores que ministravam aulas na Universidade tinham um computador. Imagina como era a realidade dos alunos (eu no caso!). Depois ao terminar a Graduação você centra em passar em um concurso, cumprir com responsabilidades as tarefas do ato de educar e assim o tempo passa e você não consegue acompanhar tudo. Outra questão é a remuneração do professor. Hoje torna-se quase inviável investir em tecnologias quando nem sequer os salários são pagos em dia. E o pior é ver os gestores e até o governador apresentar em redes de comunicação as novas ‘formas de ensinar’ com o uso da tecnologia. Que tecnologia em um contexto que muitas crianças não tem nem o que comer? Outra dificuldade é a da percepção do indivíduo em relação a aprendizagem. Sabem que têm dificuldades e precisam do ensino, mas não priorizam estudar, simplesmente por viverem numa lógica de sobrevivência. Quando não se sabe o que se vai comer ou como se vai passar o dia o estudo fica em segundo plano. (Educadora E 06, Escola Privada, 2020)
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- Ana Carolina Tramontina
- Seis pessoas estão em pé, lado a lado, sorrindo para a câmera em um ambiente interno com paredes verde-claro e portas verdes. No centro do grupo, ao fundo, há um banner com o logotipo da Uergs (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul). Da esquerda para a direita: A primeira pessoa é uma mulher de cabelos castanhos, soltos e ondulados, usando óculos, blusa branca de mangas bufantes e jeans. Ela está com uma das mãos no ombro do homem ao lado. O segundo é um homem de cabelo grisalho curto, usando óculos, camisa azul-clara listrada e calça jeans. Ele segura uma caneca branca junto com a terceira pessoa. A terceira é uma mulher loira, de óculos, usando blusa azul-escura e calça preta. Ela segura a caneca e um panfleto. A quarta é uma mulher de cabelos castanhos escuros e longos, usando uma blusa verde e calça preta. Ela segura o mesmo tipo de panfleto. A quinta é uma mulher de óculos com armação azul, cabelos presos, vestindo uma camiseta azul com branco e calça esportiva. Ela segura um copo transparente. A sexta é uma mulher de cabelos loiros, soltos, vestindo uma blusa rosa-choque e calça jeans escura. Ela está com a mão nas costas da colega ao lado. O ambiente é iluminado por luz artificial, com piso cinza claro e teto de placas modulares. Todos parecem felizes e participando de um momento comemorativo ou de entrega simbólica de brindes.
- A foto mostra uma sala de aula ampla e bem iluminada, com piso de madeira e paredes de tijolos pintados de verde claro. Cerca de 60 pessoas participam de uma roda de conversa, dispostas em cadeiras escolares com mesas acopladas, organizadas em formato circular e semicircular. A maioria das cadeiras é verde água. No centro da sala, duas mulheres de camiseta branca falam para o grupo. Uma está em pé, próximo ao quadro branco, e outra ao centro da roda, segurando um leque com a mesma identidade visual da camiseta. O público é diverso, com pessoas de diferentes faixas etárias, tons de pele, estilos e gêneros. Algumas estão atentas às falas, outras leem folhetos ou observam ao redor. Quase todas carregam o leque colorido da campanha sobre igualdade. Ao fundo, grandes janelas com vidros escuros ocupam a maior parte da parede lateral.
- Imagem desfocada com tonalidade esverdeada, mostrando uma mão humana segurando uma lupa em frente a uma tela de notebook. A lupa está centralizada e ampliando parte da tela, embora o conteúdo da tela também esteja desfocado. O notebook está aberto, sobre uma superfície de madeira clara, e exibe o que parece ser uma página da internet com várias imagens ou miniaturas organizadas em colunas. A mão que segura a lupa vem da lateral esquerda da imagem. A cena sugere o ato de investigar ou observar algo com atenção.