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Dia da Consciência Negra: entrevista com Eduardo Pacheco sobre o significado e a importância da data

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Professor Eduardo Pacheco preside a Comissão Especial de combate à discriminação e ao racismo na Uergs.
Professor Eduardo Pacheco preside a Comissão Especial de combate à discriminação e ao racismo na Uergs.

Nesta segunda-feira, dia 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida em alusão a Zumbi dos Palmares, morto no dia 20 de novembro de 1965. Zumbi foi um dos principais líderes quilombolas do Brasil, no período em que pessoas negras se organizavam em quilombos para fugir da escravidão.

A data foi oficializada pela Lei Federal nº 12.519/2011, mas a idealização do Dia da Consciência Negra iniciou na década de 70, em Porto Alegre. “O movimento pela institucionalização dessa data nasce em Porto Alegre, a partir do trabalho e militância do poeta e ativista Oliveira Silveira”, pontua Eduardo Pacheco, professor do curso de Música da Uergs e presidente da Comissão Especial de combate à discriminação e ao racismo na Uergs, instituída pelo Conselho Superior Universitário (Consun).

“Dia 20 de novembro é um dia de luta. Um dia para lembrar a sempre resistência e luta do povo negro contra as violências produzidas pela diaspora, pela colonização europeia, pela escravização e pelo racismo, este último, traço inseparável da constituição da nação brasileira. É um dia que celebra a força, a persistência e as lutas que produziram modos de existência de um povo que, apesar do Brasil, reinventa a África através dos seus Terreiros, Quilombos, da Capoeira, da Arte e da Ciência”, salienta Pacheco.

Convidamos Eduardo para falar sobre o papel da Universidade na promoção da consciência negra. Confira a entrevista:

Como a Universidade pode atuar e contribuir para uma efetiva promoção da Consciência Negra?

Através da criação de uma política de ações afirmativas. Esta política deve alcançar os discentes, mas também, todas as instâncias da Universidade. Uma gestão, nos dia de hoje, deve ter a presença de pessoas negras, assim como de pessoas não binárias, trans, homoafetivas etc. Deve ser um compromisso da instituição a diversidade, na qual a negritude faz parte.

Qual o papel da Universidade diante das demandas da população negra?

A Universidade Pública, do meu ponto de vista, tem o compromisso com o público. A produção e divulgação do conhecimento deve estar voltada para o bem estar social comum. Para isso, deve considerar a produção de conhecimento já estabelecida pela humanidade. Esta é muito mais ampla que aquela feita no mundo europeu. O papel da Universidade é tomar como alimento, também, o pensamento africano, afro diaspórico como parte importante da constituição do mundo no qual vivemos. É tardia a inclusão dos saberes do povo negro nos bancos acadêmicos. A voz única que imperou durante muitos anos nos currículos deve ceder espaço para os pensamentos que povo negro produziu e produz no que diz respeito as formas de ser e estar no mundo. Assim como é urgente que a Instituição fortaleça as formas de ingresso discente de pessoas negras e garanta a presença de docentes negros neste processo.

Qual a importância das cotas raciais?

A reparação histórica. É evidente que o Brasil fez de tudo para que negros e negras não tivessem acesso ao sistema de produção de bens que se estabelece depois do fim da escravização. São públicas as leis que impediam negros e negras de acessar a terra, trabalho e estudo. Mesmo que atualmente essas leis não vigorem mais no País, o acesso das pessoas negras a saúde, educação, lazer e bens de consumo é muito inferior ao que as pessoas brancas têm. Garantir a possibilidade de acesso é movimento importante no reconhecimento desta violência, assim como na democratização do bem viver ao qual as pessoas negras têm direito.

Qual a conscientização necessária para que as pessoas compreendam o objetivo e a importância das cotas raciais?

Essa pergunta é difícil. Posso elencar algumas coisas. Em primeiro lugar, cabe à Universidade atuar nesse sentido. Através de tudo que disse antes. Precisamos de um intenso processo de educação, valorização da cultura, da história, das artes, da religiosidade, da ciência e dos modos de existência do povo negro. Infelizmente, no contexto social, apagar um processo de desumanização que tem início nos livros sagrados do mundo europeu, ou seja, não são séculos de construção de desvalorização do que não é branco, são milênios, vai exigir uma luta que não vai se esgotar nos bancos da universidade. A Uergs pode contribuir para isso, ainda é tímida. Enganam-se aqueles que pensam que se trata somente da cor da pele. É necessário entender que se trata de tomar os modos de existência da negritude como modos potentes e possíveis na criação de mundos, assim como temos visto ao longo da história, apesar da tentativa de apagamento que ainda o mundo branco tenta exercer.

Por: Daiane de Carvalho Madruga

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