Projeto da Uergs contribui para a inclusão de meninas e mulheres na Ciência
Include Gurias promove ações e dissemina conhecimentos das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Publicação:

O Dia 8 de março celebra a luta pelos direitos das mulheres, entre eles a ocupação igualitária de espaços tradicionalmente masculinos, especialmente no campo do trabalho. Quando se trata da atuação na área de STEM, essa paridade ainda é um desafio que o Projeto Include Gurias, do curso de Engenharia de Computação da Uergs, busca transpor.
Apesar de ter registrado um crescimento nos últimos anos, a participação de mulheres ainda é considerada desproporcional à presença masculina na área de Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática (CTEM ou STEM, em inglês). Isso acontece desde o ingresso em cursos de Ensino Superior nessa área até a inserção no mercado de trabalho, de acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para contribuir com a mudança desse cenário, o Projeto Include Gurias, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), tem desenvolvido uma série de ações que despertam o interesse de meninas para essa área.
Segundo a Unesco, a porcentagem média global de estudantes mulheres em STEM é de 35%. Já no Brasil, a porcentagem de meninas e mulheres em cursos de Ensino Superior nessa área é de 30%, de acordo com os resultados das pesquisas sobre igualdade de gênero em STEM no Brasil realizadas pelo Laboratório do Futuro, da UFRJ, que analisou dados de diversas fontes no período entre 2010 e 2019. Esse mesmo estudo também apontou um aumento de 4,2% de presença feminina nas turmas de formandos(as) em cursos da área de STEM no período.
A professora Fabrícia Damando, idealizadora do Projeto de Extensão Universitária da Uergs Include Gurias, reitera que são necessários cerca de 24 anos para que o Brasil atinja o percentual mínimo de paridade entre homens e mulheres, que é de 45%, em STEM. Atuando na Uergs desde 2008 em cursos da área, a docente observa com inquietação todo esse contexto há bastante tempo. Essa é a principal motivação para as ações do Include Gurias, que existe desde 2016 com o objetivo de despertar o interesse de meninas para a tecnologia e as ciências exatas por meio do pensamento computacional.
“Ciente desses dados, buscamos mudar esse cenário tanto dentro do curso quanto fora dele. Ao observar que o ingresso de meninas na Engenharia de Computação estava diminuindo e que essa situação estava sendo generalizada, comecei a buscar formas de estimular que mais meninas conhecessem a área da computação. Outra motivação foi fazer com que as alunas concluíssem a graduação em Engenharia de Computação, se sentindo pertencente ao curso e à área”, conta Fabrícia.
O Include Gurias atua em duas frentes principais: com atividades voltadas a meninas dos anos finais dos ensinos Fundamental, Médio e Técnico em escolas públicas; e com ações que envolvem estudantes do curso de Engenharia de Computação da Uergs. Além de Fabrícia, o Projeto conta com a colaboração de outras docentes mulheres que atuam no curso: as professoras Adriane Parraga, Débora Matos e Letícia Guimaraes.
“Eu acredito que promover o contato das meninas com STEM desde cedo, além de proporcionar acesso a uma educação de qualidade, também favorece uma melhoria na sua autopercepção em relação às habilidades lógicas e promove o sentimento de pertencimento aos cursos dessa área”, afirma Fabrícia.
A intenção é estimular meninas e mulheres a usarem sua criatividade e capacidade intelectual para desenvolver o pensamento computacional por meio de diversas atividades associadas à inovação tecnológica, tais como: programação em blocos, atividades com uso de arduino (plataforma de prototipagem eletrônica) em sistemas embarcados e criação de jogos plugados e desplugados. Tudo isso é trabalhado por meio de oficinas, palestras, lives e ações de divulgação científica de produções de mulheres que atuam na Ciência.
Para divulgar e envolver estudantes da graduação em Engenharia de Computação no Include Gurias, há um espaço maker do Projeto na Uergs e são ofertadas oficinas e bolsas estudantis. Durante a graduação na Uergs, a engenheira de Computação Michele Liese atuou como bolsista no Include Gurias. Hoje, ela relata como a participação no Projeto foi uma oportunidade de partilhar seus conhecimentos com outras meninas, além de uma contribuição significativa para o seu desenvolvimento pessoal.
“Eu me realizei porque era incrível ir nas escolas para ensinar meninas no Ensino Médio e no Fundamental sobre a área da STEM e poder passar para elas um pouquinho do que eu aprendia na faculdade, do que eu tinha de conhecimento da área já, mas de uma forma mais descontraída, mais adaptada para a idade e para o conhecimento que elas tinham, claro, para que despertasse interesse nelas e para mostrar que aquilo era bom e que elas também podem. Principalmente isso, que não é porque elas são meninas que elas não poderiam participar, não poderiam fazer um curso na área da STEM ou mesmo gostar dessa área”, relata.
“Quando eu percebia que as meninas queriam que voltássemos, quando tu vê o resultado do que tu tá fazendo, isso é muito gratificante! E não só pra elas, mas pra mim também, como aluna da Uergs e agora como profissional. Isso foi de sumo crescimento para mim porque eu tinha muita vergonha de apresentar trabalhos na faculdade e, tendo que ir nas escolas, falar com crianças, adolescentes, compartilhar o meu conhecimento, eu tive que perder um pouco dessa vergonha e isso me destravou. No trabalho isso me ajudou bastante”, complementa Michele.
Com passagem por grandes empresas da área de Computação, agora Michele contribui com projetos de inclusão feminina em STEM na empresa onde está trabalhando atualmente.
Entre os demais frutos colhidos pelo Include Gurias, estão a matrícula na graduação de estudantes que conheceram o projeto por meio das ações nas escolas de Educação Básica. De acordo com Fabrícia, a média anual de matrículas de meninas na Engenharia de Computação da Uergs era de 10% até 2023. Em 2024 e em 2025, esse percentual superou os 20% com o aumento do número de meninas ocupando as 40 vagas ofertadas a cada ano. Além disso, no ano passado, duas meninas da Região Norte do país vieram estudar Engenharia de Computação na Uergs graças ao desempenho do curso, considerado o melhor do Brasil de acordo com o Enade 2019, cujo resultado foi divulgado em 2020.
Docentes que atuam nas escolas atendidas pelo Projeto também têm buscado o Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Docência para Ciências, Tecnologias, Engenharia e Matemática (PPGSTEM) da Uergs em Guaíba. Fabrícia também cita outras realizações, como o recebimento de fomento interno e externo para o projeto; a publicação de artigos com resultados das pesquisas desenvolvidas no âmbito do Include Gurias em revistas nacionais; o desenvolvimento de diversos produtos educacionais e a contribuição para a conquista de vagas de estágio pelas meninas vinculadas ao Projeto.