Artigo: cenário de extremos tem chuvas em excesso e atenção para o risco de desertificação
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Por Márcia Berreta, professora da Uergs e coordenadora do Comitê Estratégico do Clima.
"Restauração de terras, desertificação e resiliência à seca". Este é o tema escolhido pelas Nações Unidas para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente neste 5 de junho de 2024. Talvez achemos estranho trazer a problemática do déficit hídrico neste dia, uma vez que o Rio Grande do Sul ainda sofre com o maior desastre climático, ocorrido neste último mês, por conta do excesso de chuvas concentradas, que afetou cerca de 2,4 milhões de pessoas em 476 municípios.
Conforme os dados da Defesa Civil do RS, publicados no dia 04/06/2024, 575.171 pessoas ainda se encontram desalojadas no estado, tentando retornar para suas casas, limpá-las da lama, reconstruí-las ou encontrar um novo lugar. Ambientalmente é impossível calcular as perdas de solo e nutrientes levadas pelas águas. Ainda é possível ver nas imagens de satélite a mancha vermelha na saída da barra de Rio Grande, ocasionada pelos sedimentos oriundos de áreas agrícolas, barrancos dos rios, deslizamentos de encostas. Mas cabe aqui lembrar que todo este cenário de extremos é o locus das Mudanças Climáticas que já estão dando sinais ora de chuvas em excesso, ora de secas em todo sistema global.
Ou seja, neste momento, a catástrofe se deu por inundações e deslizamentos, mas não podemos deixar de pontuar que, nos últimos anos, o estado vem sofrendo também com as secas e estiagens. Especialmente neste início de século, foram registrados esses tipos de eventos no Rio Grande do Sul entre os anos 2003 a 2021, sendo a maior parte nos seis primeiros meses do ano.
Os agricultores são os que mais sofrem com esses períodos, pois o déficit hídrico impacta diretamente os plantios, muitas vezes a única fonte de renda das famílias. As Nações Unidas alertam que o número e a duração das secas vêm aumentando significativamente em recorrência e impacto. Neste momento, 40% das terras do planeta estão degradadas, afetando diretamente metade da população mundial, e até 2050 as secas podem afetar mais de três quartos.
Diante deste cenário, o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2024 se concentra na restauração da terra, na interrupção da desertificação e no desenvolvimento da resistência à seca, fundamentais para a Restauração de Ecossistemas. A Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas (2021 a 2030) é um chamado global à ação, um apelo para a proteção e revitalização de ecossistemas em todo o mundo, fundamental para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Esperamos que, para além de “reconstruir o estado”, possamos também pensar em assumir compromissos de restauração dos nossos ecossistemas afetados e das terras degradadas ao longo das ultimas décadas, em especial neste último evento, e nos prepararmos com políticas públicas de adaptação às crises climáticas que ainda enfrentaremos logo ali.”