Biólogo formado na Uergs assume cargo de chefia na Secretaria Nacional da Pesca
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A trajetória de um biólogo formado pela Uergs Litoral Norte - Osório mostra que, desde a graduação, é possível viver diferentes experiências que permitem conhecer novas possibilidades de atuação e abrir portas para a jornada profissional.
Leonardo Martins Pinheiro ingressou na Uergs em 2014, no curso de Ciências Biológicas. Até a colação de grau, em 2019, o estudante teve diversas experiências e muitas reflexões sobre os rumos acadêmicos e profissionais. Do trabalho como bolsista em diferentes projetos ao longo da graduação e do contato com pessoas que trabalham com a pesca, além dos aprendizados, foram criadas oportunidades. Leonardo já é mestre em Ecologia e, recentemente, assumiu o cargo de chefe da Divisão de Ordenamento Costeiro-Marinho, na Secretaria Nacional da Pesca, ligada ao Ministério da Pesca e Aquicultura, em Brasília.
Logo no início da graduação, Leonardo passou a ser bolsista do Laboratório de Águas, Sedimentos e Biologia do Pescado (LASBP/UFRGS). Na época, o curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da Uergs Litoral Norte - Osório era ofertado por meio de convênio entre a Universidade Estadual e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Nesse espaço, o então estudante participou da equipe que organizou o 1° Simpósio da Pesca no Litoral Norte do RS. De acordo com Leonardo, essa oportunidade permitiu aprofundar a relação com pescadores e conhecer as problemáticas envolvidas na atividade da pesca. “Desde então, mudei o foco: de peixes comecei a trabalhar com a pesca!”, conta.
“A Uergs foi palco de grandes discussões e aprendizados sobre a biologia e a ecologia de espécies aquáticas, que perpassam temas como o ordenamento e a conservação da atividade pesqueira”, enfatiza Leonardo. De acordo com o biólogo, professores da Uergs desempenharam um papel importante nesses momentos, ao proporcionarem o contato e ações em torno desses temas.
Experiências que mudaram rumos
Dentre as experiências mais significativas ao longo do curso, Leonardo conta também que a primeira ação de pesquisa realizada por ele foi quando entrevistou pessoas que atuavam na pesca amadora em diferentes locais. “Outro momento chave em minha vida, foi durante uma saída da disciplina de ‘Aquacultura’ para o campus da FURG [Universidade Federal do Rio Grande]. Naquela oportunidade, durante visita ao laboratório do professor João Paes Vieira, tive uma primeira ideia de TCC [Trabalho de Conclusão de Curso], que acabou não sendo maturada”, relata.
Ao participar de um evento sobre pesca, realizado na cidade de Laguna/SC, o então estudante fez uma imersão no tema e daí surgiu a proposta da pesquisa que efetivamente desenvolveria no seu TCC. “Ficamos durante uma semana absorvendo o conteúdo do evento e foi lá que tudo fez sentido! Estavam presentes pescadores, pesquisadores e aquele que viria a ser meu co-orientador no TCC: o professor Rodrigo Machado, o qual colabora com o professor Paulo Ott [da Uergs] há muitos anos! Pronto, TCC esquematizado e com uma ideia de compreender a relação da pesca com a poluição marinha”, afirma.
A partir disso, novas oportunidades surgiram e começaram a delinear seu futuro profissional. “Considero que durante a caminhada do TCC muitas portas foram abertas e algumas janelas também! Tive a oportunidade de conhecer pescadores de grande parte do Litoral Norte e ver que a poluição interagia de forma proeminente: cerca de 30% do que era pescado, era lixo! Esse trabalho me rendeu duas publicações acadêmicas, mas sobretudo, me ensinou sobre ciência e sociedade integradas, me ensinou sobre as vulnerabilidades socioambientais e socioeconômicas da pesca - ao menos em nível regional”, reflete Leonardo.
Outro momento que o biólogo considera uma “virada de chave” foi quando, já no final da graduação, atuou como bolsista de Iniciação Científica do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do RS (Gemars). Em parceria com a Uergs, o Gemars desenvolve o Projeto Pesca, que busca aliar o conhecimento proveniente das experiências das comunidades pesqueiras à conservação do ambiente marinho.
Leonardo relata que, nessa experiência, aprofundou a relação com comunidades pesqueiras diferentes das que estava acostumado e teve a oportunidade de conhecer de perto a prática da pesca embarcada. “Sob a companhia dos colegas de projeto, coordenadores e (especialmente) os pescadores, cresci enquanto pesquisador, ampliando minha bagagem acerca da pesca. O final do contrato de bolsa coincidiu com o fim da graduação. Que caminho seguir? O que fazer depois que acabar tudo?", ressalta.
O caminho seguido
Ainda na época da colação de grau, Leonardo já pôde colher os frutos semeados durante sua trajetória na Universidade. Ele conta que foi convidado pelo coordenador do Projeto Pescar, Frederico Sucunza, a continuar na equipe depois de formado. E alguns dias após receber seu diploma, Leonardo assinava o contrato como pesquisador de apoio técnico-científico para atuar no Projeto.
“Eu estava mudado, mais maduro e o projeto também! Evoluímos enquanto equipe, enquanto grupo junto aos pescadores e também pensando mais alto! Produzimos duas notas técnicas para subsidiar demandas dos pescadores, dois artigos e inúmeros resumos de congressos. Pude aprofundar a relação com os fóruns e demais colegiados da categoria”, avalia.
Passados alguns anos, em 2022 Leonardo resolveu ingressar no Programa de Pós-Graduação em Ecologia, da UFRGS. Como mestrando, ampliou sua área de pesquisa, que passou a abranger todo o Litoral Norte do Rio Grande do Sul e toda a Região Sul de Santa Catarina. E, segundo ele, pôde colocar em prática o que aprendera até entrar na pós-graduação e continuou participando dos eventos da área da pesca.
“Foi nessas incursões que uma situação se apresentou de forma até então inédita: um grupo de pescadores solicitou uma reunião com a superintendente do Ministério da Pesca no RS, Ana Spinelli, em Porto Alegre, sobre a necessidade de regulamentação de sua modalidade de pesca, existente há cerca de 30 anos! De pronto, me coloquei à disposição para contribuir no que fosse preciso”, conta Leonardo.
A partir dessa iniciativa, o biólogo passou a ter contato com o Departamento de Territórios e Ordenamento, da Secretaria Nacional de Pesca Artesanal. Integrado a um coletivo de pescadores, pesquisadores e gestores federais e estaduais, participou pela primeira vez de um processo de construção de uma política pública desde a produção técnica até a elaboração da minuta. Ele relata que, nesse processo, uma servidora do Ministério da Pesca visitou a comunidade de pescadores para conhecer de perto essa demanda.
Depois disso, Leonardo foi selecionado para cursar um doutorado e aprovado em um concurso público e para uma nova vaga de consultor. Mas, nesse período, teve uma surpresa: a servidora do Ministério da Pesca que visitara a comunidade o convidou para integrar sua equipe, que atua em Brasília. E assim, um dia após a defesa da dissertação do mestrado, Leonardo embarcou para Brasília e em seguida foi empossado como chefe da Divisão de Ordenamento Costeiro-Marinho, na Secretaria Nacional da Pesca.
Ao integrar a Coordenação Geral de Gestão Participativa Costeiro-Marinha, Leonardo é responsável pelas políticas de ordenamento da atividade pesqueira na Costa Brasileira. “Posso dizer que aumentou um pouco a área de abrangência, não é mesmo?”, celebra.
“Basicamente, a grosso modo, vejo este momento como uma escada, onde cada degrau levou ao próximo, aumentando o nível de complexidade e de responsabilidade, para o desempenho de uma função que sempre esteve em mim, mas sob outras abordagens e metodologias: integrar o conhecimento dos pescadores na formulação de políticas públicas para a continuidade da pesca de forma a compatibilizar questões sociais, ambientais e econômicas”, concluiu o profissional que teve como ponto de partida da sua trajetória acadêmica e profissional a graduação ofertada na Uergs Litoral Norte.