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Estudante de Música da Uergs recebe Prêmio da PUC com trabalho sobre Mulheres Pesquisadoras no Cenário Musical Brasileiro

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Fotografia de mulher jovem, branca, com olhos e cabelos castanhos, esses longos e encaracolados sobre os ombros. Ela sorri e está com a cabeça levemente inclinada para esquerda. Usa óculos de grau e veste suéter na cor bordô.
Camila de Luna Paiva é bolsista de Iniciação Científica na Uergs.

A estudante Camila Paiva, do curso de Música – Licenciatura da Uergs, obteve o Prêmio de Melhor Trabalho na área de Linguística, Letras e Artes, no 21º Salão de Iniciação Científica da PUCRS, realizado em outubro deste ano. Camila conquistou o prêmio com a apresentação do trabalho “Mulheres Pesquisadoras no Cenário Musical Brasileiro”, orientado pela professora Cristina Wolffenbüttel.

O trabalho de Camila, que é bolsista do Programa Inicie/Uergs, está vinculado a uma pesquisa sobre a contribuição de mulheres na construção da História da Música no Brasil. A estudante conta que, nessa produção, buscou investigar e dar visibilidade à presença feminina na música brasileira e, com isso, encontrou dados importantes para a Educação Musical.

Confira a entrevista em que a estudante conta sobre sua trajetória acadêmica e os passos que a levaram a esse reconhecimento, e fala sobre a importância das bolsas de Pesquisa:

Qual o objetivo do trabalho “Mulheres Pesquisadoras no Cenário Musical Brasileiro"?

Este trabalho está vinculado à pesquisa de Iniciação Científica intitulada “A Contribuição de Mulheres na Construção da História da Música no Brasil”, que foi desenvolvida de abril de 2019 a junho de 2020, sendo financiada pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, por meio da bolsa IniCie/Uergs, e orientada pela professora Dr.ª Cristina Rolim Wolffenbüttel.

Com o intuito de investigar e visibilizar a presença feminina na música brasileira, esta investigação revelou dados interessantes para a área de educação musical. Desta forma, em tratando dos questionamentos que orientaram esta pesquisa, foram esses: Quais têm sido as contribuições de mulheres na construção da história da música brasileira? E, considerando-se a importância da presença feminina na pesquisa brasileira, quais mulheres têm pesquisado sobre música e educação musical ao longo dos anos? A partir disso, foi realizado um levantamento de toda a produção científica presente em duas revistas de grande importância para a área da educação musical e a área da música (considera-se aqui os estudos de composição, performance, regência, harmonia, etc). Respectivamente os dados coletados foram oriundos da Revista da Associação Brasileira de Educação Musical (Abem) e da Revista Opus, vinculada à Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (Anppom).

Além disso, os estudos de música e gênero foram essenciais para analisar os dados coletados, bem como tecer reflexões fundamentais acerca das trajetórias histórico-sociais de musicistas e compositoras brasileiras.

O que te motivou a realizar esse trabalho?             

Em 2017, iniciei o curso de Graduação em Música: Licenciatura e, durante os primeiros semestres, deparei-me com a ausência de referenciais femininos, seja na própria História da Música, como nas disciplinas de Harmonia e, também, Prática de Conjunto. Durante o ano seguinte, de forma inicialmente e autônoma, realizei algumas investigações introdutórias e compreendi que essa ausência era histórica e sistêmica, uma vez que se tratava, aqui, de exclusões simbólicas que, assim como os conhecimentos e narrativas das mulheres, também exclui os conhecimentos dos indígenas e dos negros. Então, no final do ano de 2018, compartilhando com a professora Cristina Wolffenbüttel essas minhas reflexões iniciais, ela acolheu e me motivou a dar continuidade a essa pesquisa, sendo de grande importância todo o seu empenho, acolhida e orientação. Assim, a professora Cristina elaborou o projeto e o submeteu ao edital de bolsas de iniciação científica da Uergs. Com alegria recebemos a notícia de sua aprovação. Sendo assim, em abril de 2019, iniciamos juntas essa pesquisa que, para mim, é fruto de muito amor e comprometimento.

Como percebes a presença de mulheres pesquisadoras no Cenário Musical Brasileiro?

A partir da pesquisa bibliográfica, notamos que a investigação sobre a presença feminina, enquanto compositora e musicista propiciou grandes contradições e dualidades, sendo fortemente respaldadas através da submissão e dominação masculina perante a própria autonomia das mulheres. Compreender a importância e a contribuição de compositoras na história da música no Brasil é reconhecer que, ao falar sobre a história da música do Brasil, fala-se, também, da história das mulheres no Brasil. Partindo do questionamento sobre a importância da presença feminina na pesquisa brasileira observamos, também, uma certa fronteira entre os gêneros e as áreas de educação musical e música.

Considerando a Revista da Associação Brasileira de Educação Musical, foi realizado o levantamento de toda a produção científica, o que inclui os anos de 1992 até 2019. Dentre os resultados, constatou-se que foram publicados 445 artigos, distribuídos em 43 edições. Com relação às autorias, constatamos que o número de autoras mulheres é bastante significativo, correspondendo a 68,09% do total de publicações na revista. O segundo levantamento realizado foi a partir da Revista Opus, que divulga a pluralidade do conhecimento em música, incluindo os aspectos de cunho prático, teórico, histórico, político e cultural. Desta maneira, foram encontrados 434 artigos distribuídos, em 42 edições, entre os anos de 1989 até 2019; e, ao analisar as autorias, o percentual de mulheres somou 28,57%, indicando a predominância masculina.

Consideramos a produção científica produzida por mulheres e homens, com o intuito de compreender a particularidade de cada área apresentada, e, como isso está atrelado, também, às construções sociais de gênero. A partir da pesquisa bibliográfica, sabe-se que ao longo de todo o século XIX apareceram anúncios em diversos periódicos em que mulheres oferecem seus serviços como professoras de música. Cabe ressaltar que naquela época, uma mulher compositora não era bem vista e tampouco aceita socialmente. Desta forma, é através da educação musical e, principalmente, do ensino do piano, que as mulheres, ao longo daquele período, ganharam, gradativamente, a aceitação social. Sendo assim, historicamente, observa-se que a área da Educação Musical permanece contemplada pelo gênero feminino, de modo que os dados podem ser analisados como um eco histórico e simbólico dos espaços que foram disponibilizados socialmente para as mulheres. É fundamental que essas divisões sejam consideradas e superadas, que se relacionam, também, ao número pequeno de professoras nos cursos de composição nas faculdades brasileiras, algo análogo aos cursos de licenciatura em música.

Em que fase está a pesquisa? Pretendes dar continuidade?

Esta pesquisa foi finalizada em julho deste ano e publicada no International Journal of Humanities and Social Science, com o título Women Researchers in the Brazilian Music Scene. Cabe salientar que esta investigação teve como recorte as mulheres pesquisadoras, de modo que foi realizada, também, outra pesquisa que considera duas musicistas essenciais para o estado do Rio Grande do Sul: Celiza de Oliveira Metz e Therezinha Petry Cardona. A partir desta investigação foi utilizada a pesquisa documental e espera-se que, em breve, esse material também seja publicado, oportunizando, cada vez mais, a importância das mulheres na música. Além disso, pretende-se publicar o artigo “Mulheres Pesquisadoras no Cenário Musical Brasileiro" também em uma revista Brasileira, de modo que essas reflexões possam também ecoar nos planejamentos em educação musical.

O que significa pra ti essa premiação?

A premiação recebida no Salão de Iniciação Científica da PUC é símbolo, inicialmente, de muita leitura, dedicação e escrita. É realmente uma alegria receber esse prêmio com uma pesquisa tão importante em minha trajetória acadêmica. Além da minha primeira iniciação científica é expressão também da parceria com a minha orientadora, professora Cristina Wolffenbüttel, que desde o início acreditou e motivou a realização desta pesquisa. Gostaria de agradecer também ao ProPPG da Uergs, que financiou esta investigação. É fundamental que, cada vez mais, alunas e alunos tenham acesso à pesquisa científica com bolsa. Certamente, além de oportunizar inúmeros conhecimentos, torna-se fundamental para a permanência na universidade, como foi também o meu caso. Sigamos realizando pesquisa, refletindo sobre nossas atuações e escutando compositoras! 

 

 

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