Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia
Início do conteúdo

Artigo - Novas perspectivas e desafios à rotina do(a) trabalhador(a) em época de pandemia

Publicação:

Sentadas em um sofá, uma mulher negra com um notebook sobre as pernas e uma menina bebê ao seu lado. Em frente a elas, uma criança menino manuseia um brinquedo sobre uma mesa de centro.
Comemora-se o Dia do(a) Trabalhador(a) em mais um ano de pandemia, situação que ainda exije uma série de cuidados e de adaptação ao teletrabalho para muitas pessoas.
Por Betina Magalhães Bitencourt, doutora em Administração, professora da Uergs.

O ano de 2020 trouxe mudanças sem precedentes para a economia mundial e para o mundo do trabalho, alterando também os nossos hábitos e estilo de vida. Ainda no início de março daquele ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) caracterizou o surto da doença do novo coronavírus (COVID-19) como uma pandemia, incentivando que o mundo inteiro tomasse medidas para tentar evitar o colapso na saúde pública, entre as quais de confinamento em grande escala, como ocorreu em muitos países.

Com isso, grande parte da população ativa foi instruída a ficar em casa e continuar a trabalhar remotamente – caso as suas funções permitissem. Ainda que muitos especialistas sinalizassem o trabalho remoto como tendência, a pandemia de 2020 acelerou esse processo, criando a mais vasta experiência de teletrabalho em massa da história (OIT, 2020).

O teletrabalho é modalidade em que as atividades laborais são realizadas com o uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC), sendo exercidas fora dos locais de trabalho da entidade empregadora (OIT, 2020). Dessa forma, proporciona a possibilidade de horários mais flexíveis e a liberdade de trabalhar a partir de um local alternativo. 

Porém, é importante lembrar que, no caso de um evento imprevisto, como uma pandemia, não tivemos escolha por adotá-lo e tampouco uma vasta gama de opções por lugares alternativos para desempenhar as nossas atividades, uma vez que as recomendações sanitárias envolviam prioritariamente a permanência em casa sempre que possível. Assim, somamos aos riscos do trabalho remoto (como a perda de contato com os colegas, a possível sobrecarga de trabalho e o desenvolvimento de doenças causadas prioritariamente pelo sedentarismo) o isolamento social, que afetou não somente as nossas relações laborais.

Tratamos aqui, evidentemente, de atividades nas quais o trabalho remoto é uma possibilidade. O potencial de realização de trabalho a partir de casa se difere muito entre locais com diferentes níveis de desenvolvimento econômico e social. Ter acesso a uma internet de qualidade e possuir os equipamentos necessários são os requisitos determinantes para que isso seja possível. 

A natureza das atividades e a renda per capita dos trabalhadores também evidenciam as diferenças entre quem pode e quem não pode adotar o teletrabalho. Estudos como o de Hatayama et al. (2020) indicam que os países com uma forte dependência de setores como a indústria transformadora, a agricultura, a construção e o turismo têm menor capacidade para adotar tal modalidade. Da mesma forma, Dingel e Neiman (2020) apontam uma correlação positiva entre percentual de teletrabalho e renda per capita. Segundo estes autores, em Luxemburgo, 53% têm condições de adotar o home office. No Brasil, 26%. Em Moçambique, 5%. 

O mesmo ocorre entre os estados brasileiros, corroborando os estudos acima. O Distrito Federal ocupa o primeiro lugar no ranking de PIB per capita e também o primeiro lugar em teletrabalho, com cerca de 32% dos trabalhadores podendo realizar seu trabalho em tal modalidade. Já o Piauí conta com apenas 16% de potencial de teletrabalho (IPEA, 2020).

Cabe ainda ressaltar que, para pais, mães e pessoas cuidadoras que trabalham, o encerramento das atividades escolares e de outras atividades de cuidados tornaram o trabalho a partir de casa um desafio (OIT, 2020). Esse novo contexto forçou essas pessoas a desenvolver novas dinâmicas na gestão da conciliação entre a vida profissional e a pessoal.

Movimentos como o Parent in Science, que surgiu com o intuito de levantar a discussão sobre a maternidade e a paternidade dentro do universo da ciência, tomaram forma no Brasil e cresceram muito durante este período. As ações, como as deste grupo em destaque, levaram a mudanças concretas no cenário científico brasileiro, trazendo sobretudo a maternidade para o centro da discussão (PARENT IN SCIENCE, 2021). Hoje, diferentes editais de financiamento consideram o período de licença-maternidade na análise de currículos e, desde abril de 2021, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) incluiu no currículo Lattes um campo para registro deste período. Estas iniciativas representam um avanço para buscar minimizar as diferenças entre profissionais que precisam equilibrar as demandas familiares e as laborais, as quais se acentuaram ainda mais nos últimos meses.

Para além do contexto de pandemia que vivenciamos há mais de um ano e que ainda nos traz um grau de incerteza no tocante à volta da “normalidade”, o fato é que as entidades empregadoras e os governos devem ter em conta as perspectivas de quem trabalha em relação aos desafios e oportunidades não apenas do teletrabalho, mas de todas as modalidades. Especialmente neste momento adverso em que vivemos, a colaboração e o pensamento coletivo devem ser prioridade, uma vez que desenvolvemos novas formas de conviver, consumir e trabalhar. Portanto, medidas que apoiem a inserção e a reinserção no trabalho, assegurem o bem estar e mantenham a produtividade dos trabalhadores e trabalhadoras são essenciais para que possamos efetivamente celebrar o dia de hoje.



Mais notícias

UERGS - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul